Foda-se - por Millôr Fernandes

Então olá a todos... Vamos a isto.
Hoje vou fugir um bocadinho ao meu estilo (se é que tenho algum estilo de jeito...). Seja como for, quando li este texto, fiquei "fascinada" com a forma como podemos transformar algo, dito ordinário, em algo tão verdadeiro... ainda que possa chocar alguns leitores mais às direitas! Perdoem-me esses respeitosos leitores, mas a vontade de colocar a nú esta verdade absoluta de todos os dias, foi mais forte. Até para uma respeitável mãe de familia... E por favor, poupem-me ao discurso tipico que nunca, jamais, dizem palavrões, seja lá por que razão fôr. Toda a gente os diz, seja com intuito ofensivo ou como forma libertadora de tensões e stresses, que infelizmente, todos sofremos. Claro, que há também aquelas situações em que vomitamos palavões uns atrás dos outros, simplesmente, porque nos apetece... ahh e aquelas outras que numa frase de apenas 5 palavrinhas, 4 são autênticos e cabeludos palavrões de fazerem corar a raíz dos cabelos!
Que se lixe - se servirem para alguma coisa, que venham eles!!! (os palavrões...)
Então, deliciem-se com este texto... e divirtam-se como eu me diverti!
Foda-se - por Millôr Fernandes
(adaptado)

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me.

"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"?

"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo: "Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!". O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...).

Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.


E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!". Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”

Então:

Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!

Mas não desespere:

Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”

Atente no que lhe digo!
O quê?! Alguém corou?... Tomem mas é juizo!

Comentários

Anónimo disse…
Por vezes é muito libertador, sem dúvida.
Post muito apropriado a nome do teu Blog!

Beijinhos
Anónimo disse…
ehehehe
Ainda estou a rir com a quantidade de "foda-se" e "caralhos" que li e, melhor ainda, sem bolinhas vermelhas ou reticencias! é isso mesmo amiga, a Millôr tem td a razão: um "foda-se" e um "caralho" aplicado na hora certa sabe mesmo bem :)

Olha um fim-de-semana bom comó caralho para ti!!
Beijocas
homempasmado disse…
Também gosto muito do M. Fernandes.
Toma lá umas citações dele :-D


É completamente incompreensível o interesse em torno do sexo, depois de tantos milhares de anos de uso.

De todas as taras sexuais, nenhuma é mais estranha que a abstinência.

"Cinco anos depois, tão misteriosamente como começou, a censura sobre este jornal, terminou. Sem censura? Não nos enganemos - assim como a ordem veio, pode ser negada amanhã."

Quem mata o tempo não é assassino, é suicida.

Idiota mesmo, é o sujeito que, ouvindo uma história com duplo sentido, não entende nenhum dos dois.

O grande erro da natureza é a incompetência não doer. Trabalho

Um homem está realmente velho quando prefere andar só que bem acompanhado.

A prepotência mata mais que a impotência.

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