World Trade Center


World Trade Center. Torres Gêmeas. Quem não se lembra? Toda a gente se lembra; toda a gente se recorda daquele momento que, ainda que longe da nossa realidade diária, nos marcou bem fundo nas nossas almas, nas nossas vidas. Para sempre.
Perguntarão vocês: porque escreve ela sobre esta tragédia quando se passaram já 5 anos? Cinco anos. São os anos que o meu filho tem. Essa data marcou-me e continua ainda a doer a lembrança do dia 11 de Setembro. Estava grávida e o meu filhote nasceu pouco depois - pensei que ia nascer nesse dia, tal foi o meu desespero e ansiedade. Poderão pensar que estou a ser exagerada... mas não. Bem sei que essa realidade estava a quilómetros de distância; havia (há) um oceano pelo meio, mas era impossivel ficar indiferente e distanciar-me do que estava a acontecer do outro lado do mundo. Era impossivel fingir que nada daquilo tinha a ver comigo, connosco. Aquelas torres imponentes, quase intocáveis, que nem mesmo o vento lhes parecia tocar... vê-las assim, desmoronar como um castelo de cartas, vulneráveis e à mercê de um qualquer plano diabólico e vingativo. Foi demasiado violento, emocional e fisicamente para mim. Acho que para todos os que assistiram.
Certamente, esse dia modificou a forma de pensar de muitas pessoas por todo o mundo, e comigo não foi diferente. Foi um acto ignóbil e sem justificação possivel. Nenhum credo, religião ou política podia ter permitido tamanho assassínio de milhares de inocentes. Nada nem ninguém.
Sempre gostei dos filmes do realizador americano Oliver Stone, não só pela forma como "conta" uma história mas sobretudo pela forma como "remexe" os factos da história dos EUA e os transpõe para a tela do cinema. Mas desta vez, se alguém estava à espera de o ver fazer da tragédia do World Trade Center mais um momento de polémica, desengane-se, pois neste filme, Oliver Stone não agitou as águas e limitou-se "apenas" a mostrar-nos como pode ser marcante e emocionante a história de dois heróis quase anónimos. A luta dramática de homens que ninguém conhecia mas que lutaram com tudo o que tinham e não tinham para manter os olhos abertos... para viverem - o renascer dos escombros. O objectivo não era voltar a rever os embates dos aviões nas torres, nem tão pouco o drama vivido por todos os que ficaram encurralados sem escapatória possível. Foi antes mostrar ao mundo o outro lado desta tragédia - a forma persistente e corajosa como homens e mulheres se esqueceram delas mesmas para salvar quem podiam. Ao longo de 130 minutos, o realizador constrói um cenário trágico e chocante, que caracterizou os acontecimentos daquele dia.
Foi sob essa perspectiva que vi o filme. Revivi emoções adormecidas; raivas apagadas e revoltas esquecidas. Contudo, não me veio à mente sentimentos de vingança ou ódio, apenas o sentimento da ainda existente e inesquecível solidariedade por todas as pessoas que viveram aquela tragédia na pele, que respiraram aquele ar envenenado, e também por todos aqueles que sentiram as suas vidas apagarem-se e desmoronarem-se juntamente com aquelas Torres. Num beco sem saída.
As lágrimas nasceram nos meus olhos e eu deixei-as rolar pelo meu rosto; deixei-as correr como quem corre para a libertação. Para a libertação que possivelmente aquelas pessoas ansiaram e nunca chegaram a alcançar. O estranho foi sentir que mais valia acabar com aquilo de uma vez já que a angústia de ver vidas impossiveis de salvar era maior. Lembrei-me daquele dia, cinco anos atrás, e recordei o medo de trazer um filho ao mundo, para aquele mundo... um mundo cheio de ódio, vingança e maldade. Não era isto que, um dia quando crescesse, queria explicar ao meu filho. Heróico? Corajoso? Sem dúvida, mas só consigo atribuir estas caracteristicas a todos aqueles que conseguiram renascer das cinzas do World Trade Center, e ainda que marcados para o resto das suas vidas, vivem todos os dias com a esperança que o futuro seja melhor que o presente... É por isso que acredito que podemos fazer deste mundo um lugar bem mais bonito, se assim o quisermos e sobretudo se tivermos coragem para lutar, para mudar... se deixarmos vir ao cima o melhor que cada um de nós tem para dar aos outros, mesmo em momentos trágicos que afectam as nossas vidas... não nos deixemos controlar por sentimentos de medo e vingança que nos toldam a visão para as coisas belas que este mundo ainda tem e que podemos partilhar com quem mais amamos. Vejam o filme - vale a pena.

Comentários

Martuxa disse…
És uma querida!!! Se estivesse mais perto quem te levava ao cinema era eu! E com toda a certeza, estaria muito bem acompanhada com uma pessoa como tu. Beijos muito grandes para ti e para os queridos pequenos.
Rosa disse…
Não quero! Ver :)
Pode ser bom e tal, e valer a pena, e tal, mas já me deixei de ir ao cinema para sofrer.
Beijinhos, miúda!
Anónimo disse…
Não faço intenções de ver, mas gostei de saber que foste ao cinema!
Só acho que devias ter ido ver algo mais alegre, já basta a realidade cruel da vida real!

beijinhos
PS: isto é para não te queixares da ausencia dos meus comentários...deixei 2 hoje!
Martuxa disse…
(re)ver o que se passou há cinco anos atrás nem sempre significa querermos reviver ou sofrer com isso... ainda assim, vale a pena, para aprendermos a dar valor à vida. Beijos e abraços.

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